“Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até ao fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.”
(Fernando Pessoa in Teoria e Prática do Comércio)
Provavelmente, foi este “saber trabalhar”, que Fernando Pessoa fala, o motor para dar nova vida às Conservas Portuguesas.
Em 1938 a indústria conserveira era considerada pujante com 152 fábricas em laboração, mas com o passar das décadas e com o consumo a contrair foram desaparecendo dezenas de conserveiras existindo hoje pouco mais que duas dezenas (21 empresas).
Mas a indústria conserveira mostrou o seu “saber trabalhar” conseguindo, em 10 anos, duplicar a exportação, tornando Portugal o 4º maior exportador de conservas de peixe em 2012.
Terá, também, sido este “saber trabalhar” que levou esta indústria a subir ao 3º lugar dos produtos agrícolas e a alimentares mais exportados em 2013.
Este sucesso é sentido por todos, inclusive no mercado interno. O consumo interno subiu; lojas Gourmet, em que as conservas têm destaque, multiplicaram-se e o respeito e orgulho por esta indústria renovou-se e fortaleceu-se nos portugueses.
Mas como é que uma indústria antiga e em queda conseguiu conquistar o Mundo?
A aposta na diferenciação dos seus produtos através do processo de produção (artesanal ou industrial) e/ou através do aumento da diversidade dos produtos em conserva é uma abordagem importante que vai de encontro aos gostos dos consumidores cada vez mais exigentes.
Mas é provavelmente na Comunicação que as mudanças se fazem notar com mais intensidade.
A indústria conserveira soube aproveitar e enaltecer algo que a Nutrição e a Medicina referiram como fundamental: o valor nutritivo do peixe e a importância dos peixes gordos numa alimentação saudável e preventiva onde a sardinha e a cavala ganham relevo.
E porque a imagem é muitas vezes o primeiro factor de atracção, existe um investimento claro no Design das embalagens seja relançando imagens vintage características das diferentes marcas; seja criando novas imagens recorrendo a designers ou ilustradores nacionais.
E no advento dos Chefs que melhores embaixadores poderiam as conserveiras ter? Pois…nenhum, e as conserveiras perceberam isso. Por isto, agora é possível ver importantes Chefs nacionais a usarem nas suas criações as nossas conservas e a enaltecer a sua qualidade.
Philip Kotler fala da importância das marcas e empresas criarem uma relação afectiva com os seus clientes algo que sem dúvida a indústria conserveira está a conseguir com êxito, seja reatando a relação com o seu mercado interno quer criando relações além fronteiras.
"Se você criar um caso de amor com seus clientes, eles próprios farão a sua publicidade." (Philip Kotler)
Bom trabalho!
* Artigo originalmente publicado em 12 de Fevereiro de 2015.
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