A arte de bem sentar o cu no mocho (sem falar de politica)



Se porventura está a pensar “o que terá passado pela cabeça do rapaz para escolher esta linha de entrada”, informo que vamos falar de capacidade de decisão e gestão da mudança.
Há dias na visita à excelente exposição dedicada aos 150 do nascimento de Aurélia de Sousa, li num dos painéis informativos que no final do seculo XIX a fotografia era entendida por alguns como uma técnica substituta da pintura. Esta ideia surpreendeu-me em absoluto porque sempre as interpretei como artes muito deferentes, cada qual com o seu publico, orientação e filosofia de aplicação. Todavia, depois da surpresa inicial, percebi que à luz da época, a fotografia representava uma forma mais barata e acessível de registar o quotidiano, concretamente no que respeita à realização de retratos.
À proporção e contexto da época, a fotografia estaria para a pintura como a televisão para a rádio, o cd para os discos, o ebook para os livros ou a uber para os táxis.  A incorporação de uma nova técnica que pelo seu carácter inovador, chega a mais gente de forma menos onerosa é uma ameaça para a solução existente. Se é verdade que a fotografia, a televisão e os cd’s impuseram-se nas massas, também é um facto que a pintura e a radio encontraram o seu espaço. Ainda que para isso os seus interpretes tenham sido obrigados a tomar decisões corajosas.
"sentar o cu no mocho": ser chamado à responsabilidade.
Foto retirada do post "paixão pelo banco mocho".
Encarar a realidade e tomar decisões

Sobre a forma como a rádio inverteu a sua queda já falamos aqui. Percebendo que não pode competir nos mesmos termos que a televisão, a rádio aproveitou a massificação do acesso à internet e plataformas digitais para conquistar os consumidores com outros produtos (transmissão emissão pela internet, podcasts, etc) surpreendendo pela facilidade de consumo em horários de conveniência. No final de 2016, a rádio está numa trajetória muito mais interessante que a televisão (abafada pelo serviço noticioso nas redes sociais e pelas transmissões no youtube).

Se estes exemplos lhe parecem muito corporativos, pense no impacto da Primark nas marcas de roupa de criança, do IKEA em todo o segmento lar (do mobiliário, da iluminação até à cutelaria), do crescimento das “marcas brancas” em todo o segmento alimentar e da Amazon nas cadeias de livrarias). O impacto é brutal e irreversível porque disponibiliza à maioria dos consumidores um produto mais barato com uma “esperança de vida” aceitável. Neste cenário, as empresas têm 3 grandes linhas de reacção:

·         Go Up
Esta tem sido a estratégia de muitas empresas: apostar na qualidade acima da quantidade, ser líder num nicho de mercado com a sua marca. Sendo uma opção elegível, este tipo de estratégia só está ao alcance das empresas que consigam conquistar um conjunto suficiente de consumidores (e distribuidores) que valorize (estando disponível a pagar por) o conceito do produto bem acima do mainstream. E não é fácil por duas razões. Primeiro lugar porque só há espaço para 1 a 2 marcas operarem no segmento. Depois porque mesmo quando existem consumidores, o produto tem de ser interessante o suficiente para que os canais de distribuição mais comuns estejam interessados no negócio. É possível, mas é um caminho estreito.

·         Go Bigger
A estratégia que poucas empresas têm apostado em Portugal. Crescer por fusão, aquisição ou associação para encarar de frente a ameaça dos novos produtos ou ganhar musculo para eliminar intermediários e chegar mais competitivo a outros canais de distribuição. É em parte a estratégia que a Sonae tem tido para alargar oferta e diminuir a dependência do retalho alimentar. É em parte o que algumas empresas de fruta têm feito para conquistar quota de mercado em novos mercados ou ganhar espaço nos lineares das maiores cadeias de retalho na Europa.

·         Go Developper
É a estratégia que várias empresas de porte médio têm vindo a adoptar. Não tendo dimensão ou interesse ser parte de um todo maior, apostam em ser lideres na sua arte, criando e melhorando produtos e serviços com a sua marca ou marca de terceiros. São, perdoam-me o excesso de anglicanismos, developers.
Empresas inovadoras cujo core business é fazer produtos competitivos: seja pelo preço, seja pela qualidade dos materiais, seja pela inovação incorporada. Empresas capazes de mexer no “equalizador do produto” para que este seja barato, premium ou inovador respeitando certificações de qualidade e rotinas industriais. E nesta categoria cabem muitas empresas, desde produtores de bolachas, peças de automóveis, roupa de criança fatos de competição ou kayaks.

Todas estas opções são elegíveis, cabe ao responsável do negócio saber interpretar a realidade da sua empresa, o seu posicionamento no mercado e assumir responsabilidades. 
Dieta de Fim de Semana
Se ficou surpreendido a dinâmica e o incrível impacto que a exposição de Amadeo Souza Cardoso teve em meados deste ano em Paris, tem agora uma boa oportunidade de perceber o porquê. A mostra recria uma exposição de 1916 e estará patente até 31 de Dezembro no Museu Nacional Soares dos Reis, transitando posteriormente para o Museu do Chiado em Lisboa.
Se gosta de policiais e não tem paciência para tiroteios, perseguições automóveis e explosões, a Fox Crime tem-nos andado a mimar com o melhor que se faz pelas terras de sua majestade. Depois de umas séries de época, quem reina por ora é Vera. Se está à espera de uma detective jovem, bem-comportada e finais sempre felizes, esta série não é para si.

Dieta Politica
Há dois assuntos que eu evito abordar aqui: futebol e politica. Mas convenhamos, o elefante está no meio da sala, é melhor admiti-lo e lidar com a situação.
Muitíssimo se tem falado das implicações da eleição de Donald Trump a nível económico e social, mas 10 dias depois eu ainda me fico pelas palavras de Ricardo Costa na manhã seguinte às eleições: Trump não é o princípio nem o fim do mundo. Mas é outra coisa. Quanto às implicações para as empresas portuguesas, penso o mesmo que relativamente ao Brexit (onde estamos mais expostos):  não é fácil concretizar medidas protecionistas sem que destas resultem retaliações exemplares. Se esse for o caminho, esperam-nos tempos muito difíceis.
O que me parece garantido é que assistiremos ao desaparecimento de algumas coisas que damos como garantidas, quer ao nível da relação entre os povos quer relativamente liberdades de género e credo. Eleger extremistas (de direita ou esquerda) oferece sempre este tipo de garantias.

Votos de uma excelente semana.

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